Neojibá

Mais um número de nossa coluna semanal de música em parceria com a Cheiro de Pizza. Desta vez iremos falar da Neojibá http://www.neojiba.org/. Ano passado tive a oportunidade de assistir uma apresentação dos garotos e me senti muito feliz com aquela experiência. O espetáculo me chamou muito a atenção e agora segue um pequeno texto sobre alguns momentos que vivenciei naquele dia.

A Orquestra Castro Alves, a mais jovem do Neojibá – Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, iniciou em outubro de 2011 a nova programação do belo projeto Concertos Didáticos, voltado para crianças e jovens de Salvador que desejam conhecer o universo da música erudita. Quem conduziu a apresentação e regeu todo o concerto foi Helder Passinho Jr., trompetista da Orquestra Juvenil da Bahia.

Na plateia, cerca de 1.000 pessoas tomaram as dependências do Teatro Castro Alves, um dos mais tradicionais e elitizados da cidade, mas que  neste dia se viu perante um aglomerado de alegres crianças, oriundas das mais diversas escolas públicas da cidade, transformando por algumas horas o então elitizado teatro num popular e efervescente espaço cultural, agregando ainda mais valor (simbólico) ao evento. Não que só tivessem tais crianças no concerto, mas definitivamente foram elas que roubaram a cena; deram um show de participação, educação e mostraram para todos os ainda céticos cidadãos soteropolitanos que basta oferecer boas opções de cultura para que o respaldo destes pequenos seja dado.

Sobre esta peculiar plateia, observações: primeiramente, todos sabem que já é difícil exigir silêncio e atenção do público em geral, imagina então quando este é formado basicamente de crianças ávidas por ação e instigadas a conhecer algo que lhes é novidade. Porém, diferente do barulho comumente percebido em espetáculos dos mais diversos, aqui o agito vindo dos meninos e meninas casou-se perfeitamente com o concerto, transformando magicamente o espetáculo numa ode à arte; esta constatação foi uma das mais belas lições tiradas por mim no evento: interação diferencia-se sobremaneira de má-educação.

Sobre a perspectiva didática do concerto, elogios. Houve uma apresentação dos instrumentos, além de bate-papo com todos os presentes. E ainda, com função explicativa, os músicos da OCA estiveram com um figurino diferenciado: camisetas coloridas, com uma cor para cada família de instrumentos (cordas, madeiras, metais e percussão). Segundo o regente Helder “isso amplia o caráter didático do espetáculo e facilita a compreensão das crianças sobre a formação de uma orquestra”.

Falando do repertório propriamente dito, a orquestra começou mostrando a Dança Húngara Nº 1, de Johannes Brahms, precedido por uma  contextualização da obra e do autor. Belíssima, os meninos se mostraram bem entrosados e não dispersaram em momento algum. Logo em seguida veio a Sinfonia Nº5, do já famoso artista pop Ludwig van Beethovem. Incrível como bastou alguns acordes para que todos soubessem que se tratava dele. A apresentação desta peça, devo mencionar, necessitou de uma maior atenção por parte de todos, mas ao seu final o resultado foi bastante agradável aos ouvidos. A partir de então o programa adentrou num viés mais popular, apresentando a Danzón Nº 2 e a Conga del Fuego Nuevo, ambos de Arturo Marquez. Neste instante, público e orquestra integraram-se num só organismo, vivo, e acima de tudo, feliz.

Palmas, palmas e palmas. Foi desta maneira que todos ali interagiram espontaneamente com estas duas peças. E logo após, quando se findou o espetáculo, havia um entendimento geral de que todos os envolvidos eram merecedores de tais palmas. Desde a organização do evento, que foi desafiada a pôr em ordem o mais poderoso dos exércitos já criados pelo homem, que é o de crianças, passando pela orquestra (consequentemente o Projeto Neojibá) e chegando ao público, de energia admirável e com disposição para ali ficar por horas e horas.

Por fim, fica a sincera sugestão: sempre que algum de vocês tiverem a oportunidade de assistir uma apresentação do Neojibá, por favor, não hesitem sequer por um segundo, corram o mais rápido possível para  as acomodações do teatro, da casa de shows…

… e se divirtam.