Conversas Plugadas – Chico Diaz

Em 22 de março de 2012 foi dada a largada para mais uma temporada do projeto Conversas Plugadas, promovido pelo Teatro Castro Alves e que visa dentre outros objetivos oferecer novos conhecimentos ao público em geral, através do intercâmbio com profissionais de excelência no cenário nacional e internacional. A primeira edição deste ano foi mais que especial, pois teve como convidado o grande ator – de cinema, teatro e televisão – Chico Diaz.

Chico, brasileiro nascido no México, com pai paraguaio, e que morou por um bom tempo no Peru. Mistura mais plural está difícil de encontrar. Óbvio que esta peculiaridade não foi deixada de lado nas mais de duas horas de bate papo entre o ator e a plateia, que, se não chegou a lotar, ao menos compareceu em bom número na Sala do Coro do TCA. Como o evento foi realizado em uma quinta-feira (19 horas), este público deve ser considerado muito bom.

Em suas primeiras palavras Chico se lembrou da fase adolescente, os seus 14 anos de idade, marcados por acontecimentos que segundo ele são sombrios. Isso pelo fato de ter vivenciado o período da Ditadura Militar brasileira, uma das épocas mais tristes deste país. Essa atmosfera sombria foi intensificada quando resolveu entrar na faculdade (de arquitetura) e participar de Centros Acadêmicos e Movimento Estudantil. Era bem tensa a relação entre ideologias, principalmente a dicotomia existente entre Direita e Esquerda.

Sobre a escolha do curso de arquitetura, uma explicação bem curiosa: como ele não sabia o que fazer, escolheu este curso, que segundo ele é o curso ideal para estes casos. A segunda pergunta da plateia foi do ator baiano Caco Monteiro (Tieta do Agreste, Estranhos). Ele lembrou o início da carreira de Chico Diaz no teatro e no cinema. Logo em seguida Chico complementou falando de sua participação no longa-metragem O Sonho Não Acabou, de Sergio Rezende. Foi bem no começo de sua carreira, e ele ainda era ligado ao curso de arquitetura. Neste trabalho Chico já foi indicado ao prêmio de ator coadjuvante no tradicional Festival de Gramado. Este feedback lhe deu segurança, além de aplausos, dinheiro e reconhecimento. Para um primeiro trabalho era bom demais.

Logo após Chico falou um pouco de como ele desenvolveu sua carreira, composta por mais de 50 filmes, e que numa época eram cerca de cinco filmes feitos por ano, rotina das mais intensas para qualquer profissional. Dentre estes muitos filmes, destaque para o momento em que contracenou com o lendário Marcello Mastroianni (um dos queridos de Federico Fellini). Os dois trabalharam em Gabriela, de Bruno Barreto, e tinham exatamente uma cena juntos. Esta cena, por sinal, foi bem peculiar, pois eles ensaiaram algumas vezes, e no momento em que se daria a gravação pra valer faltou água do carro pipa (a cena necessitava de água, pois simulava uma chuva). Eles tiveram que esperar horas até a produção conseguir mais água, mas para a surpresa dele, ao filmar a cena bem depois, ela ficou boa logo na primeira tentativa. Isso o fez perceber a mágica que é este trabalho de ser ator.

Neste momento ele menciona que sua cara nordestina sempre lhe rendeu muitos convites e começou a citar alguns de seus trabalhos, onde sempre era o cearense, o paraibano…

Em mais uma intervenção do ator Caco Monteiro, foi afirmado que hoje em dia há menos grupos de teatros, e por isso existem cada vez mais monólogos sendo produzidos. Chico então discorda. Diz que os grupos de teatro continuam sim numa quantidade considerável e que o aumento de monólogos se dá muito mais por escolhas pessoais dos artistas.

Assim respondido, a próxima questão foi bem interessante. “Chico, o que te move?”.

Ele respondeu dizendo que se espanta com a consciência do homem. “É um mistério profundo que fortalece”. E que isso é o caminho para a arte. Então esse trabalho de compreensão do mundo é o que lhe move.

Falando de A lua vem da Ásia (monólogo que apresentaria no Teatro Castro Alves dias depois), Chico diz que comprou a ideia acreditando que aquilo era realmente muito bom. É um texto de 1956 e que, no entanto ainda é relevante. Foram apresentadas 145 sessões por todo o Brasil, desde janeiro do ano passado.

Depois, Chico foi perguntado sobre o que achava da situação atual da cultura no Brasil, sem um viés político, e mais social.

Sua resposta começa com uma afirmação que segundo ele é paradoxal: “Tenho uma crença pequena na palavra. A palavra perdeu muito de seu valor”. E é paradoxal, pois seu monólogo é fundamentado na palavra.

Ele mencionou sua participação num grupo formado por atores, logo após a eleição de Lula (2002). Este grupo tinha o objetivo de abraçar causas relacionadas à prostituição infantil, meio-ambiente, etc. E assim complementou dizendo que as coisas estão melhorando, a visibilidade dos artistas e de suas obras vem aumentando. E isso vem melhorando por conta de uma política mais intensa de Editais, da realização de mais e mais festivais e da criação de muitas faculdades de cinema.

A partir daí foram exibidos dois vídeos com colagens de seus trabalhos. Ele foi comentando um por um. Deu para ver muitas cenas de Amarelo Manga (filme que lhe rendeu um Candango de Ouro, no Festival de Brasília), além de Baile Perfumado, Gabriela, e de muitas cenas de novelas e séries.

Após isto, o evento chega a sua reta final, cabendo ainda mais algumas perguntas: Como se dá suas escolhas profissionais e o que você absorve de cada personagem?

Sobre as escolhas, ele diz que busca sempre entender o tipo de discussão que traz o personagem. O que ele quer mostrar e o que ele deve deixar velado. E que ele trabalha, sobretudo no que está escondido, oculto, no personagem. E sobre o que ele absorve, bem… Todos os trabalhos o modificaram de alguma forma.

Mais duas questões para finalizar: seu monólogo foi uma escolha baseada numa verba menor que o projeto necessitaria? E depois lembraram que Memorial de Maria Moura (um de seus mais interessantes trabalhos na TV) não foi mostrado em nenhum daqueles vídeos.

Sobre o monólogo, ele diz que a solidão é o tema da peça. Foi escolha criativa e não para economizar dinheiro. Sobre a série da Rede Globo, ele mostra-se bem grato, pois foi em uma época bem difícil da vida profissional dele, onde os trabalhos eram escassos e o dinheiro um tanto curto.

Assim, mais uma edição do projeto Conversas Plugadas chegava ao fim, num ótimo início de trabalhos no ano. Chico Diaz mostrou-se um ator dos mais carismáticos, sóbrios, interessante e inteligentes. Que as próximas edições mantenham este nível de qualidade.

Fotos: Cristiana de Oliveira